8 it was RED: maio 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Verdadeiros jovens

Antes de iniciar uma nova análise de um filme, gostaria de me desculpar pela longa ausência. Tratarei melhor sobre o assunto em um próximo post. Agradeço àqueles que continuaram frequentando o it was RED durante esse período. Abraço a todos, e bom texto!
Entre os muros da escola (Entre les murs, 2008)

Direção: Laurent Cantet

Roteiro: Laurent Cantet, Robin Campillo e François Bégaudeau






O que são os jovens? Ou melhor, como são os jovens? O cinema já nos exibiu inúmeros lamentáveis retratos dessa fase da vida. Às vezes observamos retratos nos quais constam indivíduos com uma carcaça imatura, mas com um intelecto adulto; quando isso não consta, deparamo-nos com clichês ambulantes. A sétima arte nos mostra, na grande parte das vezes, tudo, menos a verdadeira juventude. Essa inverossimilhança ocorre, principalmente, porque grande parte das películas que mostram a adolescência está inclusa no gênero “teen film”, categoria que engloba nobres títulos, como: American Pie, Crepúsculo, High School Musical e outros enlatados massificados. Esse lamentável estilo, destinado a um barato grupo adolescente, abusa dos estereótipos; todo ser humano conhece as personagens de um teen film. Há o geek, o capitão do time de futebol americano, a líder de torcida, etc. É óbvia a existências desses grupos nas escolas do mundo inteiro, no entanto, um indivíduo é muito mais do que um rótulo; simplificar uma personagem à imagem padronizada dos grupos é, infelizmente, recorrente nesse tipo de filme.


Felizmente, existem as exceções. Elephant é uma delas; essa película, a qual já comentei aqui no it was RED, mostra os adolescentes em grupos sociais, e faz isso sem reduzir as personagens à caracterização de seus respectivos filos. Outra obra que revela a realidade da juventude é Entre les murs.

Vencedor da Palm d’Or em Cannes, o filme mostra as relações entre alunos e professores em uma escola da França. Nos é exibida, principalmente, a relação entre o professor François Marin e sua turma.

Cannes, 2008

Ao assistir Entre les murs, senti-me realmente em uma escola; a semelhança com a realidade é encantadora, justamente porque os alunos possuem a mentalidade de alunos. Os jovens carecem de maturidade em vários aspectos, como adolescentes normais de uma escola; essa carência é aflorada, por exemplo, nos momentos em que a aula aborda uma temática sexual, em forma de risinhos descontrolados. Os alunos, no entanto, não são completos babacas, pois participam constante e calorosamente das discussões que surgem em classe. Os jovens não são adultos em corpos joviais, mas também não são vegetais despidos de opinião. Eles são jovens.

Outra virtude do filme está no professor. Seria fácil – e ponto comum – inserir um professor bondoso e simpático que se doasse de corpo e alma à turma e que tentasse mudar a realidade a qual se revela diante dele. Tão simples e clichê seria o mestre diametralmente oposto, o qual só deseja o mal para os alunos. François Marin, interpretado por François Bégaudeau – autor do livro no qual Entre les Murs é baseado -, é o exemplo de um professor normal. Se o que estamos acostumados a ver nas salas de aula da vida real é um corpo docente formado por indivíduos comuns, o que raramente vemos na tela do cinema é o reflexo disso. Vemos ou professores magníficos, ou tiranos. François Marin é uma personagem que, de modo sutil, mostra-se, basicamente através de sua expressão corporal, insegura. Olhares esquivos que procuram o chão, e gestos imprecisos pontuam esse excelente retrato do professor.

François Bégaudeau

Interessante também o retrato que Entre les murs faz do corpo docente, um universo o qual é estranho à maioria dos espectadores. É interessante o torto relacionamento dos professores, que ora toma a forma de uma amizade normal – como na cena em que os professores comemoram a gravidez de uma funcionária -, ora assume um formato próximo a uma inimizade – como quando os professores não encontram uma opinião unânime em relação aos assuntos educacionais.

Se os dois lados de uma escola – corpo discente e docente – são excelentemente revelados, a relação entre esses dois é igualmente excelente. As falhas na comunicação entre François e sua turma são evidentes; as dificuldades em transmitir algumas idéias aos alunos surgem constantemente na película.

Entre les murs revela os percalços existentes na carreira de um professor, as responsabilidades inerentes a essa profissão formadora de intelectos, e as decisões tomadas por esses profissionais as quais podem alterar profundamente a vida dos alunos. A máscara dos grupos sociais dos jovens é retirada, e o que nos é revelado na sua verdadeira face é a mais bela realidade. Assistir a essa película é ter a chance de compreender a complexa relação entre os dois lados da complexa relação aluno-professor.