Assim como um indivíduo que pega um filme no meio e que não acompanha o nome das personagens, eu não sabia o nome dos integrantes da mesa. Assim, criei natural e mentalmente um apelido para um sócio da API. Diogo Mainardi não necessitava de um cognome, pois já o conhecia; Pedro Andrade foi mencionado no decorrer do programa, assim tomei conhecimento de como ele se chamava; Caio Blinder e Lucas Mendes não possuíam nenhuma notável característa da qual se pudesse extrair uma designação alusiva a ela; Ricardo Amorim, devido a sua notável arcada dentária extremamente alva – nunca na minha vida eu havia visto dentes tão claros –, foi mentalmente batizado de Dente Branco (o nível de claridade de sua guarnição maxilar era tão elevado quanto o seu pedantismo; sua dentição era a manifestação física de sua pateticidade; ele poderia perfeitamente ser uma das personagens pedantes que constantemente aparecem nos filmes de Woody Allen – com a única diferença de que Amorim não possuía nenhum conhecimento.). Devo admitir que um dos membros da Assembléia não merecia estar lá; Pedro Andrade fazia comentários sensatos e parecia ter pesquisado sobre os tópicos do programa, ao contrário dos outros, os quais provavelmente foram dominados por uma absurda auto-confiança prepotente, a qual os fez julgar não necessária a busca por conhecimento sobre os assuntos a serem debatidos na mesa.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Em uma escaldante noite de fevereiro (A estúpida visão sobre a sétima-arte)
Assim como um indivíduo que pega um filme no meio e que não acompanha o nome das personagens, eu não sabia o nome dos integrantes da mesa. Assim, criei natural e mentalmente um apelido para um sócio da API. Diogo Mainardi não necessitava de um cognome, pois já o conhecia; Pedro Andrade foi mencionado no decorrer do programa, assim tomei conhecimento de como ele se chamava; Caio Blinder e Lucas Mendes não possuíam nenhuma notável característa da qual se pudesse extrair uma designação alusiva a ela; Ricardo Amorim, devido a sua notável arcada dentária extremamente alva – nunca na minha vida eu havia visto dentes tão claros –, foi mentalmente batizado de Dente Branco (o nível de claridade de sua guarnição maxilar era tão elevado quanto o seu pedantismo; sua dentição era a manifestação física de sua pateticidade; ele poderia perfeitamente ser uma das personagens pedantes que constantemente aparecem nos filmes de Woody Allen – com a única diferença de que Amorim não possuía nenhum conhecimento.). Devo admitir que um dos membros da Assembléia não merecia estar lá; Pedro Andrade fazia comentários sensatos e parecia ter pesquisado sobre os tópicos do programa, ao contrário dos outros, os quais provavelmente foram dominados por uma absurda auto-confiança prepotente, a qual os fez julgar não necessária a busca por conhecimento sobre os assuntos a serem debatidos na mesa.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Ascensor para o cadafalso (e o escritor filho da puta)
Direção: Louis Malle
Louis Malle
Se eu fosse o responsável pela sinopse de Ascenseur pour l'échafaud escreveria apenas: “O genial retrato sobre indivíduos que se fodem”. O verbo foder, com exceção da conotação sexual, nunca poderia ser tão perfeitamente utilizado. Não há outra expressão que retrate de modo mais perfeito o catastrófico destino das personagens do horrivelmente belo mosaico do ex-assistente de Robert Bresson (sim, Malle assistiu o renomado diretor de Pickpocket (1959)). Louis revela detalhadamente a queda de um homem; o trágico destino dos indivíduos retratado no roteiro é ilustrado de modo magistral com elegantíssimas imagens em preto e branco – a película não funcionaria tão bem em cores. O roteiro do filme traça uma diretriz racionalmente tangível das nossas emoções, as quais explodem dentro de nós no decorrer dessa obra de arte.
Não posso deixar de comentar a excelente atuação de Jeanne Moreau e a incrível trilha sonora de Miles Davis. A fascinante atriz está presente em inesquecíveis cenas, como a da abertura, na qual sua personagem declara emocionadamente repetidas vezes ao telefone: “J’taime”. Moreau consegue expressar silenciosamente e verbalmente o tom trágico da película. A música de Miles ilustra sonoramente a obra do cineasta excluído da nouvelle vague (Malle foi rejeitado da panelinha do movimento francês, pois possuia um estilo diferente dos representantes; interessante ver um realizador que foi marginalizado, mas mesmo assim conquistou seu espaço na sétima arte).
Jeanne Moreau
Falar –precisamente escrever – sobre Ascenseur pour l'échafaud é uma contradição em forma de texto. Se o escritor da infeliz sinopse redigiu um texto-bomba, eu escrevi um texto-paradoxo. Resenhei a película sem comentar praticamente nenhum aspecto do roteiro; ao invés de me prender à trama, foquei-me quase que exclusivamente nas qualidades de toda a obra. É como se eu estivesse descrevendo uma belíssima mulher a um amigo e dissesse “ela é linda, maravilhosa, uma das mulheres mais belas que já vi”, meu amigo me indagasse “mas como ela é? Loira, morena, ruiva? Os olhos são de que cor? Conte-me mais sobre ela!” e eu permanecesse apenas descrevendo as qualidades da mulher, pois sua formosura está contida em seus surpreendentes traços; se eu revelasse a cor dos seus cabelos e olhos, o formato de boca e rosto, estaria destruindo toda sua complexa harmonia. Espero que meu amigo leitor entenda que boa fração de, não apenas beleza, mas genialidade de Ascenseur pour l'échafaud está no mistério de suas feições. Meu texto, em contraponto ao texto-bomba do Filho da Puta, é, acima de um texto-paradoxo, um sincero desejo de que outros cinéfilos tomem conhecimento dessa formosíssima mulher, desse comovente mosaico, dessa complexa engenhoca, dessa genial tragi-película.