8 it was RED: Avatar

sábado, 2 de janeiro de 2010

Avatar

Avatar (Avatar, 2009)
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron


Minha primeira reação ao descobrir o novo filme de James Cameron foi: “Grande bosta, um filme caro”. Meu desdém foi parido da boca de milhões de seres que gritavam a tudo e a todos o mega-orçamento dessa super-produção (palavras engrandecedoras não faltam na descrição da obra). É insuportável ver indivíduos enaltecerem os gastos de uma película; não assisto a filmes porque são absurdamente caros ou baratos, mas porque estou interessado em uma boa história contada de uma boa maneira. O dinheiro que gasto no cinema não compra hiper-orçamentos; compra hiper-idéias (quando possível). Outra glorificação de gastos na sétima arte a qual presenciei ocorreu em Playtime (1967), de Jacques Tati. A sinopse contida no verso do DVD louvava o fato de que esse era o longa mais caro o qual o cineasta francês filmou. Quando li isso, imediatamente pensei: “e daí?”. Pelo jeito, o endeusamento dos mega-orçamentos não é uma exclusividade do mainstream cinematográfico.



James Cameron

No entanto, percebi que pessoas ao meu redor e vários blogs os quais conheço começaram a exaltar Avatar. Nesse momento, conscientizei-me de que era necessário assistir-lhe, já que ele poderia ser muito mais do que apenas um mega-super-hiper-cifrão. E foi o que fiz. Quando cheguei ao cinema, após ter - felizmente - adquirido as entradas pela internet, deparei-me com a maior fila para adentrar em uma sala de projeção da minha vida; já fazia idéia do sucesso da película, mas nunca cogitei tais dimensões. Assim, a obra de Cameron, acima de ser a produção cinematográfica mais cara já realizada, é um longa para render demasiado-pleonasticamente muito - afinal, todo e qualquer pleonasmo é útil para enfatizar os interesses lucrativos do filme.

Como já esperava, deparei-me com um roteiro completamente fraco e clichê. A obra mostra, no ano de 2154, a exploração realizada pelos humanos em Pandora, uma das luas de Polifermo, o qual orbita Alpha Centauri. Os habitantes de Pandora são os Na’vi, humanóides azuis de três metros. Os homens estão lá em busca de Unobtanium, um mineral muito valioso. Na corporativa da população terráquia estão: Parker Selfridge (Giovanni Ribisi), o estereótipo do Porco Capitalista; Dra. Grace Augustine (Sigourney Weaver), o estereótipo de um indivíduo que vive para a ciência; Norm Spellman (Joel David Moore), biológo que não é estereótipo de nada; Trudy Chacon (Michelle Rodriguez), o estereótipo da mulher-valentona; Jake Sully (Sam Worthington), personagem principal da película; e, finalmente, Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), o mais irritante dos estereótipos, o militar-machão-e-malvado. Os pesquisadores criaram o Programa Avatar, o qual permite um humano controlar o corpo de um híbrido Na’vi. Jake é um ex-fuzileiro paraplégico que aparece na Corporativa dos Estereótipos a fim de conseguir financiamento para uma operação que curasse sua limitação. O protagonista acaba sendo convocado para encarnar o Avatar de seu falecido irmão gêmeo, devido às suas semelhanças genéticas que contribuiriam para o sucesso da substituição. O mocinho, ao utilizar o seu Avatar e adentrar em Pandora, acaba se perdendo do seu grupo e conhecendo a Na’vi Neytiri (Zoë Saldaña), a mocinha do longa a qual leva Jake ao seu clã e lhe ensina os seus constumes.



É justificável a superficialidade das personagens, pois o objetivo do filme não é criar uma singular personalidade para cada uma delas, mas sim mostrar, sob a perspectiva de Jake, a incrível Pandora criada por James Cameron. Os efeitos especiais são realmente magníficos, é belíssima a estética do longa, sendo que o 3D funciona excelentemente bem e colabora muito para o enriquecimento dela. No entanto, toda a beleza contida em Avatar não foi suficiente para me conquistar. Isso ocorreu, pois toda a pateticidade do roteiro levantou um muro entre mim e a tela do cinema, assim, fui incapaz de me extasiar com o belo visual da obra. Um leitor atento e assíduo do it was RED poderia dizer que já afirmei que a sétima arte é uma experiência visual e me questionar o porquê do meu meu desgosto. Pois para esse leitor eu digo que, mesmo que o muro inexistisse, eu manteria a mesma opinião, já que, em algumas seqüências, a barreira desaparecia e eu conseguia manter minha atenção presa à estética da obra, mas - nessas frações da película – meu apreço era praticamente nulo. Por quê? Aqui vale a justificativa que utilizei em "soco no estômago 04".


Obras que perturbam e ferem minha alma, estão esmagando-me contra o solo. Ao ser comprimido, sinto-me vivo e é nesse ponto que reside minha paixão pelo cinema. Meus filmes prediletos são aqueles que, quando assisto, fazem jorrar da tela uma torrente de emoções a qual me envolve e acende em mim a luz de minha existência, tornando-me mais vivo naquele momento. Ao mesmo tempo em que esse pensamento explica meu fascínio por certas películas, ele ilustra meu desgosto por outras. Os longas que me provocam repulsa, em geral, são aqueles formados por uma natureza leve.

No caso desse longa, repulsa é uma expressão demasiadamente forte, pois ele não é inteiramente ruim. Além dos belos efeitos, as cenas nas quais James Cameron, com uma proximidade maior da câmera, mostra as dificuldades de adaptação de Jake em uma nova sociedade trazem um pouco de sensibilidade e realismo à obra - uma antítese dos obstáculos didáticos enfrentados pelo protagonista são os percorridos por Harry Potter quando o bruxo facilmente aprende a voar no hipogrifo em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Alfonso Cuarón, 2004). A Avatar as críticas ambientais, embora feitas de modo piegas, acrescentam certa cor. Entretanto, nem o ambientalismo, nem a beleza dos efeitos me conquistaram nessa película. A tão bem falada estética é, com toda certeza, absurdamente linda, até mais que a própria realidade, como afirmam alguns blogs. Mas essa harmonia que custou milhões praticamente não me atingiu; não senti minha alma ascender e acender; não senti minha existência mais real; não me senti extasiado com a formosura do filme.



Avatar é um longa válido de ser visto, no entanto, está longe de ser uma grande obra. A película revela o seu melhor nas cenas que esboçam certa sensibilidade. Infelizmente essas são apagadas pelos pontos comuns e pelas seqüências piegas. A harmonia visual é tal que revela uma beleza tão incrível quanto leve, logo, a chama de minha existência foi ignorada nesse filme. A obra mais cara da história do cinema tem como objetivo não a arte, mas o dinheiro. Em suma, Avatar é pipoca.
PS: Do dia 4 ao dia 11 de janeiro não poderei visitar nenhum blog, pois estarei viajando. Desejo a todos um feliz ano novo atrasado! Abraços!

15 comentários:

  1. É muito pipoca mesmo. Estou de acordo com o que você diz, sim! AVATAR não foi para mim uma desliusão, mas é muito show e pouco sumo ;D

    Óptimo 2010 para você!

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

    ResponderExcluir
  2. Otima critica...avatar foi a maior decepção dos últimos anos...
    Depois da uma olhada na minha critica la no epipocando.

    Abraços e feliz 2010!

    ResponderExcluir
  3. Caro It Was RED,

    Os Óscares de Marketing Cinematográfico, iniciativa que pretende nomear o melhor que se fez em publicidade de Cinema no ano de 2009, estão de regresso ao Keyzer Soze’s Place.

    Assim, convido o autor deste blog a expressar a sua opinião em http://sozekeyser.blogspot.com/2010/01/oscares-de-marketing-cinematografico-2.html.

    Desde já, apresento o meu profundo agradecimento na sua disponibilidade para participar nesta iniciativa.

    Cumprimentos cinéfilos!

    ResponderExcluir
  4. Deve ser questão de sensibilidade mesmo.
    Porque o filme me tocou! Eu não esperava nada e avatar é um filme simples.Quando você fala de esteriótipos,eu gostaria mais de pensar em domínios: a ciência, os militares, as empresas...e avatar é também um filme que atinge a todas as idades e grupos, por isso não pode ser tão complexo...
    De qualquer maneira gosto do tom critico que dá aos textos...muito bom!
    abraços

    ResponderExcluir
  5. Daniel,

    o Cameron é um cara de execução. O que melhor entende o mundo físico do cinema. Suas historias, personagens, diálogos, roteiros nao impressionam, mas eu me senti limpando a poeira em Pandora.

    Cameron de fato não cria personalidades, cria Avatares!

    Respeito e entendo seu ponto de vista, embora eu tenha adorado o filme e qualquer obra do diretor!

    Abs!

    ResponderExcluir
  6. É, a experiência cinematográfica é única e muitas vezes difícil de explicar, por mais que tentemos. Você não gostou e argumentou bem sobre isso. Assim como outros. Eu não esperava nada, tinha até agonia ao ver o trailer achando que seria uma bela porqueira e fui pega pela projeção. Assim como outros. Pelo menos, gerar burburinho ele já conseguiu.

    Quanto a ser raso, concordo que os personagens são tipos, nem um pouco complexos, mas o mundo de Pandora é e me envolveu. Fiquei com um nó na garganta com a queda da grande árvore, por exemplo.

    abraços

    ResponderExcluir
  7. Concordo totalmente, Avatar é um dos piores filmes do ano.

    Abraço

    P.S.- Já publiquei as tuas escolhas
    http://cinemajb.blogspot.com/2010/01/guilty-pleasures-os-jardins-probidos-de.html

    ResponderExcluir
  8. Além dos, realmente fascinantes, efeitos visuais AVATAR de James Cameron traça sem metáforas sutis uma crítica social que envolve desde a preservação da natureza até o respeito às diversidades culturais (com referências evidentes a conflitos recentes e invasões históricas), elevando a discussão para mais que mero entretenimento. Em outro filme lançado este ano, DISTRITO 9, já tinha sido abordada a segregação na África, ainda que seu diretor Neill Blomkamp negue, e na refilmagem de O DIA EM QUE A TERRA PAROU o extraterrestre Klaatu tinha a missão de destruir a humanidade devido ao mal uso que fizemos do planeta, mensagem que os “filmes catástrofes” costumam explorar. Num passado não muito distante os grandes vilões cinematográficos de ficção científica eram alienígenas e criaturas monstruosas, agora o perigo é outro (embora sempre tenha sido o mesmo). Em tempos de COP15 o ser humano, enfim, foi promovido nas telas de ameaçado à ameaça.

    ResponderExcluir
  9. Avatar podia ser muito melhor que o produto final...
    Não é que seja mau, mas pelas expectativas criadas esperava (muito) muito melhor...

    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

    P.S.-Espero que tenha sido boa a viagem

    ResponderExcluir
  10. Não tenho dúvida de que Avatar é um filme comercial e gastou tanto dinheiro para receber muito mais do que isso... Mas não posso chegar aqui e dizer que não gostei MUITO do filme, apesar do clichê de seu roteiro, rs...

    ResponderExcluir
  11. Cara, será que conseguirei comentar agora?!

    Ainda não conferi AVATAR, acredita? Mas uma grande amiga que já viu, falou que gostou muito, mas não sabe extamente o quê. Com certeza, não foi da história. Esse não é o forte do Cameron. Claro, existem exceções. O Exterminador tá aí, pra provar - o Dois, sobretudo...

    Minha amiga falou que Avatar é uma mistura de Pocahontas com Dança com Lobos e que só faltou cantarem AS CORES DO VENTO, em dado momento.

    Mas o espetáculo visual e inegável. Correndo conferir. Em 3D.

    Abração! Tomara que agora vá!

    ResponderExcluir
  12. Ate qe gostei da brincadeira do Cameron. Longe de ser um filme pra ser levado a sério, ele se enquadra pra mim, no mesmo panteão de outras grandes aventuras desprentesiosas do cinema, como Jurassic Park, por exemplo.
    Em nenhum momento achei que estaria vendo ali algo mais do que 2 horas (quase tres na verdade) de uma boa aventura. Vendo assim, avaliei o filme.

    ResponderExcluir
  13. Bom, para uma ótima diversão sem dúvida esse filme é recomendado!!

    Bjs!!!

    PS: está sumido hein???

    ResponderExcluir
  14. Meus amigos sairam da sala do cinema dizendo que era o melhor filme do ano de 2009, eu fiquei olhando pra eles com cara de: como assim?!? Avatar só impressiona por seus efeitos especiais que, infelizmente, atinge os jovens en cheio no dias atuais. A história totalmente clichê mas tratada de uma forma que os "adoradores de efeitos" nem notam. Tem vezes que eu até concordo com o Jose Wilker: "Efeitos Especiais foram criados para camuflar uma história ruim!"

    http://www.parada-ob.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  15. Roberto, o filme não acrescenta nada. Ótimo 2010 para ti também!

    Marcos, muito obrigado pelo elogio!

    Sam, já participei. Parabéns pela iniciativa!

    Bruno (Mescla de Culturas), primeiramente, agradeço pelo elogio. Sobre a sensibilidade, essa diz respeito a toda arte, e não apenas à obra de Cameron. Assim, toda e qualquer perspectiva sobre as diferentes formas de expressão é válida.

    Rodrigo, agradeço pelo respeito a minha opinião; mostras-te teu ponto de vista de forma muito madura.

    Amanda, obrigado pelo elogio! A atmosfera criada por Cameron encantou muitos.

    Jackie, obrigado pela publicação!

    Hneto, as críticas me pareceram de pouco impacto e realizadas de modo quase infantil.

    O Homem Que Sabia Demasiado, um pouco de sexo tornaria Avatar mais real.

    Nekas, o filme foi muito bem divulgado.

    Nespoli, respeito tua opinião, pois Avatar encantou muitos.

    Marcelo, assista ao filme, pois ele foi um dos maiores do ano (não confundir tamanho com qualidade).

    Fotograma, excelente ponto de vista.

    Marcia, realmente estive sumido, mas agora já voltei. O filme é realmente pipoca.

    Não conhecia essa frase do Wilker; excelente citação.

    Muito obrigado pelos comentários e pelo carinho! Abraço a todos!

    ResponderExcluir