Império dos Sonhos (Inland Empire, 2006)
Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch
Cinema e literatura são artes muito próximas; por isso, me agrada muito um filme que consegue separar um do outro, ou seja, transformar a sétima arte em uma experiência visual. Isso acontece em Império dos Sonhos, um dos meus filmes prediletos em geral e, com certeza, o melhor de David Lynch. Inland Empire é cinema de verdade.
Gosto muito das obras de David Lynch que vi até agora (falta A Estrada Perdida (1997)). O cineasta possui um estilo diferenciado, uma maneira única de fazer cinema, pois ele se desprende do racional e explicável. Apenas ele poderia realizar seus filmes; ninguém consegue criar aquele clima tenso com cenas surreais, característico de sua filmografia. Tensão é uma sensação que Lynch passa como ninguém, com o auxílio da dramaticidade de suas luzes e os ruídos sempre presentes nas cenas.
Antes de realizar Império dos Sonhos, suas películas possuíam um elo com a razão. Nesse longa - que foi inteiramente filmado com câmera digital - isso não acontece; o diretor foi mais longe do que nunca, pois não há explicação para a obra. Apesar disso, há quem procure um sentido para ela, mas qualquer interpretação não passa de uma mera especulação; cada um cria a sua. Eu, sinceramente, me recuso a criar uma, pois isso tiraria todo o sentido do filme.
Inland Empire conta a história de Nick (Laura Dern), uma atriz que vai interpretar Susan Blue em uma refilmagem de uma produção polonesa cujos protagonistas morreram durante a gravação. Ela é casada com um homem poderoso que alerta Devon, ator sedutor que interpretará Billy Side e contracenará com Nick, para não se envolver com essa. Com o início das filmagens, ela começa a confundir sua vida com a da sua personagem, abrido portas para um confuso universo ilustrado por Lynch com corredores, jogos de luzes, coelhos em uma sala, cortinas vermelhas e outros objetos que, com o toque do cineasta, transformam o filme em uma experiência visual nunca vista antes.
Quem gosta e quem não gosta de Império dos Sonhos tem o mesmo argumento: “Mas isso não faz sentido! Três horas de uma coisa completamente irracional!”. O lado de quem aprecia: com essa proposta, Lynch abre portas para um cinema completamente diferente, no qual não podemos explicar tudo. Ficar racionalizando o que o cineasta faz é destruir completamente sua obra, porque Império dos Sonhos é um filme para se sentir: não há porquês. Aí está toda a magia da obra: abandonando o racional, ele deixa as sensações fluirem na tela.
O nome do blog "it was RED" faz referência a uma das falas desconexas de um dos coelhos de Inland Empire
Digo que Inland Empire é um longa que tem Lynch na sua melhor forma, pois, assistindo a obra, percebemos que diretor gozou de total liberdade para realiza-la, para por toda sua criatividade e ousadia na tela. Nunca a dramaticidade de sua luz foi tão intensa; nunca seu experimentalismo foi tão longe; nunca houve uma experiência visual tão enérgica quanto essa. Diria que nenhum filme, nem Un chien Andalou (Luis Buñuel, 1929) e Eraserhead (David Lynch, 1979), conseguiu tratar, com tamanha maestria, do universo surreal. Aliás, surreal é uma palavra que se encaixa prefeitamente a obra lynchiana. Império dos Sonhos é mais do que um simples filme: é uma experiência única.
PS: Sugiro que para quem não conhece o cineasta não começar por Império dos Sonhos, mas por um longa mais coerente.
Acho Império dos Sonhos muito bom. Dizem que é o filme que Lynch sempre buscou fazer. O meu preferido dele é Veludo Azul, mas gosto de todos. Estrada Perdida é bem sem coerência também. Acho que vc vai gostar.
ResponderExcluirAbraços!
Veludo Azul eu não gostei tanto assim. Estrada Perdida estou procurando nas locadoras, mas só acho em VHS. Abraço!
ResponderExcluirEu preciso ver esse filme. Belo texto!!
ResponderExcluirValeu Caique! Assista porque vale a pena.
ResponderExcluirGostei do post, mas discordo de vc quando os filme do Lynch não tem sentido, tenho certeza q os filme do David tem uma razão ser ser, acho "ignorância" do espectador resumir Lynch a surrealismo, seu filmes falam de sentimentos ações, esses sentimento e ações são transformadas em cenas magníficas quer muitos denominam elas de surrealista. LYNCH É UM GÊNIO!!!
ResponderExcluirFábio, acima de real ou surreal, Lynch trabalha com subjetividade. Prefiro deixar as sensações fluírem na tela a ficar racionalizando sua obra. Não acredito que considerar um artista surrealista seja diminuir sua genialidade; aliás, para mim, tal título apenas enobrece o realizador.
ResponderExcluirnunca ouviu falar em obra aberta?
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