8 it was RED: Giulietta, Fellini e Noites de Cabíria

domingo, 11 de outubro de 2009

Giulietta, Fellini e Noites de Cabíria

Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria, 1957)

Direção: Federico Fellini



Roteiro: Federico Fellini
Ennio Flaiano
Tullio Pinelli
Pier Paolo Pasolini
Maria Molinari




Quem foi o maior diretor de todos os tempos? Embora eu acredite que essa questão não tenha uma solução, a essa pergunta muitos dariam a mesma resposta: Federico Fellini. Esse importantíssimo cineasta foi o responsável por Noites de Cabíria, uma das minhas películas prediletas. A obra mostra as andanças de Cabíria, brilhantemente interpretada por Giulietta Masina – uma das minhas atrizes prediletas, se não A predileta – pelas ruas de Roma. O diretor casou-se com a atriz em 1942, permanecendo com ela até 1993, ano em que o mundo se despediu do mestre do cinema.

Como em todas as obras de Fellini que assisti até agora (81/2, La Strada, La dolce vita e I clowns), Le Notti di Cabiria possui um ar circense o qual é evidenciado ao longo do filme através de alguns elementos, como o show de ilusionismo, os músicos da cena final, a trilha sonora que remete a temas circenses e o show em um bar.


A parceria Giullieta–Federico teve sua estréia no cinema em La Strada. Fellini adorou a atuação de Masina, mas os produtores estavam preocupados com a aparência da atriz, a qual não possuía os atributos físicos esperados de uma protagonista da época. Com a insistência do diretor, Masina conseguiu o papel.

Federico Fellini e Giulietta Masina

Em Le Notti di Cabiria, Masina se identificou muito com a personagem principal e talvez esse seja o motivo de uma atuação tão magistral. Le Notti di Cabiria é o melhor trabalho de Fellini que já vi. O grande diferencial do filme é sua protagonista. Cabíria, apesar de ser uma prostituta, carrega um ar de menina consigo. Quando ela insulta, parece uma criança emburrada; quando está feliz, não consegue esconder sua satisfação; quando está triste, é incapaz de segurar as lágrimas . Masina encarnou perfeitamente essa fantástica personagem; foi uma das melhores atuações que já tive a oportunidade de ver.


A inocência de Cabíria nos é exibida durante todo o longa. Sua ingenuidade aparece na primeira cena da película. A protagonista é apresentada como uma garota que acaba de ser roubada e abandonada por seu namorado, e é nesse momento que conhecemos a relação entre a personagem principal e o amo: essa acredita na existência desse na sua mais perfeita forma.


Há uma cena em que Cabíria encontra um ator famoso o qual , após uma briga com sua companheira, resolve sair com a protagonista. É lindo quando ela demonstra seu fascínio infantil diante da situação ao se deslumbrar com o glamour do mundo dos artistas e sair gritando para todos que está com uma celebridade; quando seus olhos brilham como os de uma criança ao perceber que está dentro da mansão de um astro do cinema; quando ela observa todo luxo contido naquela residência e compara inocentemente com sua humilde casinha.


Na cena em que ela vai a um show de ilusionismo, é magnífico como ela se deixa convencer a subir no palco, como ela cai nos encantos do ilusionista e se irrita com a platéia que ri da sua situação. Essa cena se revela uma das mais belas da obra. Cabíria sobe ao palco e é hipnotizada. O ilusionista a faz acreditar que ela está em um belo parque na companhia de um homem. Cabíria fica muito feliz, seu rosto esboça um sorriso sincero e puro; ela está tranqüila, tudo está bem; tudo está como deveria estar. O ilusionista, vendo que mexeu com o lado sensível de uma garota que está procurando um companheiro, a faz acordar. Quando ela desperta, percebe que tudo não passou de uma ilusão e enxerga todos rindo dela. A cena é brilhantemente construída; o tempo todo nos é mostrado apenas o local onde ocorre o espetáculo, no entanto, conseguimos ver e sentir o que Cabíria vê e sente. Fellini é genial ao transmitir de maneira perfeita os sentimentos que a protagonista experimenta.

Cabíria sendo hipnotizada

Há uma cena de caráter crítico/reflexivo que é mais discreta, mas me chamou muito a atenção. Após uma prossição em louvor à Virgem Maria na qual todos fizeram promessas, acenderam velas, gritaram e rezaram calorosamente em nome da santa, Cabíria e seus amigos se reúnem ao lado de fora da igreja. Cabíria, com a inocência de uma criança, exclama indignadamente que todos continuaram iguais. Após rezarem, gritarem, chorarem, se amontoarem e esmagarem uns aos outros dentro da igreja, tudo continuou igual; ninguém mudou. Uma cena discreta, mas que faz uma bela crítica à relação entre seres humanos e religião.


Le Notti di Cabiria é um filme genial. Masina consegue interpretar perfeitamente a contradição de uma criança em corpo de mulher que, devido ao acaso ou à miséria, virou uma prostituta; a relação desse paradoxo ambulante com o amor e as pessoas, além da sua inserção em uma sociedade torta e tumultuada. Genial.

6 comentários:

  1. Apesar de não ser meu Fellini favorito (sempre fico em dúvida entre Roma e 8 e Meio) ainsa sim é um tremendo filme.

    Acho curioso tanto "babaca" citar dezenas de filmes mediocres em listas de melhores filmes e esquecer do tio Federico.

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  2. Seu gosto para cinema é bem europeu mesmo! Pessoalmente não gosto muito do Fellini, já vi alguns filmes mas não me agradou ... não sei porque! Prefiro os franceses mesmo, ou mais recentemente do leste europeu! Questão de gosto mesmo! Massa teu blog, e tu escreves muito bem, parabéns. A gente se fala.

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  3. Alexandre (Fotograma), realmente é um ato babaca citar os melhores filmes sem incluir Fellini na lista.

    Vinicius, não costumo me preocupar com o país de origem do filme, mas não posso negar que sou um grande apreciador do cinema europeu. Os grandes movimentos cinematográficos ocorreram na Europa; lá há um senso comum de tratar cinema como arte, o que enriquece muito os filmes.

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  4. As cabines de imprensa dos filmes que estreiam acabam tirando boa parte do meu tempo e, muitas vezes, me impedem de desfrutar de produções clássicas como essa. Fellini também está entre os meus diretores preferidos ao lado de Kubrick e Goddard.

    Ótima dica!

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  5. Daniel,

    é difícil responder a pergunta: " Qual é o melhor cineasta de todos os tempos?" Hitchcock, Huston, Kazan, Chaplin, Kubrick, Lang, Coppola, De Sica, De Mille, carné, Anrtonioni, Bergman, Capra, tarantino, Godard, Fosse, Allen, Visconti, Von Trier, Resnais, renoir, Truffaut, Almodóvar, Kurosawa, Khouri, lena, Lupino, Kieslowski, pasolini, Spielberg..??

    Gostei do texto, bem esplanado e gosto tbm do Fellini, principalmente de "I clowns" ( o mais bonito) e claro A Doce Vida é um primor!
    Já o "Noites de cabíria" tem o melhor roteiro de um filme dele (tbm grandes roteiristas!).

    A Giulietta Masina sempre teve um carisma lindo na tela.

    Abraços.

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  6. Um dos maiores filmes de todos os tempos.

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