Vida e Morte de Uma Gangue Pornô (The Life and Death of a Porno Gang, 2009)
Direção: Mladen Djordjevic
Roteiro: Mladen Djordjevic

Terça-feira passada, dia 13, fui à sala de cinema CineBancários para assistir ao filme Vida e Morte de uma Gangue Pornô, obra a qual, no dia 21, teve anunciada sua conquista do prêmio de Melhor Filme segundo o Júri Oficial no VI Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (o famoso Fantaspoa). Por se tratar de uma película de horror que participa do Fantaspoa e que possui o vocábulo “pornô” no título, já esperava que alguns litros de sêmen e de sangue jorrassem da tela e que a trasheira ocorresse indiscriminadamente no decorrer da sessão; entretanto, o longa ao qual assisti transcendeu o limite pudico e sanguinolento o qual eu havia traçado previamente em minha cachola.
Vida e Morte... mostra a história de Marko (Mladen Djordjevic), cineasta frustrado que se envolve com o mundo pornô, a princípio por questões financeiras, mas, depois, com uma intenção artística. Marko, após trabalhar para um diretor de filmes adultos e se desentender com o tal, monta um grupo itinerante formado por bizarras figuras que realiza apresentações em pequenas cidades interioranas. Um ricaço convida a excêntrica turma do cineasta a gravar snuffs – o termo se refere a gravações destinadas a um seleto grupo, as quais registram reais assassinatos. Como o dinheiro oferecido era alto e as vítimas seriam voluntárias, a gangue pornô de Marko aceita gravar os vídeos.

Encaro Vida e Morte... como uma sátira/homenagem a cinefilia. Marko anseia criar cinema-arte; isso é perceptível em seu curta gravado na faculdade de cinema o qual provavelmente é uma referência a Eraserhead (David Lynch, 1976), tanto pela fotografia em preto-e-branco, como – principalmente – pela cabeça de porco assada que move suas mandíbulas, encara o protagonista do curta – interpretado pelo próprio Marko – e emana um líquido viscoso de suas entranhas – remetendo ao inesquecível frango que Henry (do primeiro longa de Lynch) encontra em seu prato. Mas o curta de Marko é apenas um detalhe de seu amor pela sétima arte; a maior prova do fascínio da personagem principal de Vida e Morte... é a tentativa (frustrada) da inserção de questões sociais e existenciais no meio de suas vulgares apresentações pornôs. Simbolismos, diálogos que exibem o reflexo da alma, cenas que retratam a condição humana, todos esses pomposos temas e abordagens ficam diluídos no suor, sujeira e fluidos corporais da pornografia de Marko.

Eraserhead (David Lynch, 1976)
Marko atinge seu auge artístico nos snuffs ao incluir monólogos dos voluntários nos quais esses explicam o porquê da desistência da vida. No entanto, como em todo o longa, o tocante discurso dos pseudo-suicidas fica em segundo plano, ofuscado pela brutal matança.
Vida e Morte... extrapola a margem pornográfica a qual seu título propõe com cenas que passam pela zoofilia e pelo sexo explícito; a película também abusa das cenas regadas a sangue e sofrimento as quais foram propiciadas pelos snuffs. A pornografia e – principalmente – a matança perturbam o espectador; entretanto, a surra a qual fui submetido não me agradou, pois senti a falta de uma intenção maior, ainda que essa fosse racionalmente inexplicável. Careci de sentir (mas não entender) uma base artística maior para a obra. Irreversível (Gaspar Noé, 2002), Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971), Funny Games (Michael Haneke, 2007), Seul contre Tous (Gaspar Noé, 1998), Anticristo (Lars Von Trier, 2009) e tantos outros longas possuem uma intenção ao nos flagelar, ainda que esse propósito seja semanticamente intangível. Vida e Morte de uma Gangue Pornô é um soco no estômago gratuito.
Mladen Djordjevic (diretor, roteirista e protagonista de Vida e Morte...) é Marko, não em relação à atuação, mas a respeito da estrutura da obra. Mladen revela seu melhor desempenho no momento em que Marko mais se aproxima do cinema-arte ao qual esse tanto ansiava, mas também peca quando sua criação se equivoca. O fato de que Mladen interpreta Marko fortifica esse ponto de vista. Entretanto, os erros de Mladen, ao contrário dos erros de Marko, são intencionais. Marko teve a intenção de criar uma obra que perturbasse (ainda que gratuitamente), que errasse, que misturasse o refinado e o vulgar. O cineasta da realidade erra e acerta simultaneamente. Djordjevic intencionou ser Marko, fazer um tosco cinema-arte misturado com porra e sangue, uma obra pretensiosa frustrada, uma arte calcada nos paradoxos. Entretanto, não me atraiu essa arte vazia, ainda que intencional.
Cara!
ResponderExcluirA premissa deste filme me interresou,você citou ótimos exemplos cults que tenho predilação.
Me deu vontade de rever 'Eraserhead' e 'veludo Azul'. Lynch se enquadra muito bem entre a violência e o erotismo bizarro.
Não conhecia a fita, obrigado!
Abs,
Rodrigo
cara, me identifiquei mt com teu gosto cinematografico. eu acho q vc iria gostar mt de "crash - estranhos prazeres" de 1997
ResponderExcluirTche!!! Eu comecei um trabalho parecido ontem....mas o teu é mto profi! aehiauehaiueh
ResponderExcluirmto bom, vou acompanhar!
ó o meu: http://pushthegirl.blogspot.com/
bjão