Antichrist é a última e controversa obra do nada humilde Lars von Trier, dinamarquês que se considera o melhor diretor do mundo. O cineasta foi responsável por Dogville (2003) – um filme que, apesar de aclamado pela crítica e público, pouco me agradou -, O Grande Chefe (2006) – uma película interessante -, além de ser um dos idealizadores do movimento cinematográfico internacional Dogma 95.
Lars von Trier
A película em questão conta a história do casal anônimo protagonizado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg que, durante uma calorosa transa, não percebe que o filho deles sai do berço em direção à janela e se joga dela. A cena é de uma beleza singular, contrastando com seu horror semântico e com o resto do filme: a explícita exibição da sexualidade existente entre os dois ocorre em slow motion, preto e branco, com o casal de baixo de um chuveiro; a água cai lentamente, a câmera foca o prazer no rosto das personagens, além de estabelecer semelhanças corporais entre a queda da criança e a transa do casal. A fração inical de Antichrist mostra detalhadamente a penetração durante a relação do casal, incomodando os mais puritanos. Esses não sabiam o que os esperavam.
A mulher é quem mais sofre com a perda da criança, e é esse sofrimento que Lars quer mostrar para nós. O homem, que é psicólogo, tenta tratar a mulher do modo o qual ele acha que é certo, mesmo que para isso seja necessário contrariar os outros médicos. Pronto. As personagens foram construídas e Lars preparado para, não nos fazer mergulhar em um mundo sombrio, mas nos afogar nele. É nesse universo que está o maior trunfo, mas também o maior prejuízo do filme.
SEMPRE que alguém fala sobre Antichrist eu escuto a mesma coisa: “E aquela cena em que ele faz isso? E naquela que ela faz aquilo? E na outra que acontece isso?”. A obra ficou conhecida pela grande maioria apenas por suas cenas fortes. A fama das perturbadoras seqüências é tão grande que se sobrepõe a da própria película. O que vejo em vários espectadores é que eles fecharam os olhos para a grandiosidade da obra, tornando essa apenas uma pausa entre uma cena chocante e outra. Não estou dizendo que as cenas perturbadoras são ruins; pelo contrário, as acho geniais. Mas é uma grande perda ignorar o resto da obra.
Uma das cenas que chocou as platéias foi a da raposa falando com a personagem de Dafoe. Antes de assistir a película eu já tinha conhecimento dessa seqüência e esperava que ela fosse um desastre. Como uma fala proferida por uma raposa poderia ser assustadora? Imaginava algo completamente computadorizado, de uma falsidade que, ao invés de me assustar, me faria rir. Surpreendemente a cena que vi foi muito aterrorizante e natural. As palavras ditas pela raposa (“Chaos reigns”) acompanham um movimento que seria verossímil na boca do animal.
Mas mais do que as cenas chocantes, Antichrist perturba pelo seu clima pesado. A obra é muito escura e, nas cenas que são rodadas dentro do apartamento do casal, conseguimos sentir perfeitamente a atmosfera do local. Diria que é possível até sentir aquele cheiro de ambiente fechado com um clima de tristeza. Além da atmosfera, o drama psicológico enfrentado pela personagem de Charlotte Gainsbourg atingiu-me em cheio. Que significado teria tua sexualidade após teres perdido teu único filho durante uma transa? Trier responde a essa pergunta com maestria. Não é por acaso que o cineasta escreveu o roteiro durante uma crise de depressão. Antichrist é, acima de um excelente soco no estômago, a melhor obra que assisti de Lars von Trier.
Também achei um filme bom. Esperava não gostar - fiquei com um pé atrás, pois todos estavam falando mal. Mas me surpreendi positivamente. Apesar de também não ter achado nenhuma obra-prima e nada de tão chocante assim.
ResponderExcluirAbraços!
Oi, Daniel, estou aprimorando o CinePipocaCult aos poucos e o primeiro passo foi mudar para domínio próprio, o percalço é que com isso, o fedd foi alterado, assim como os links no blogroll, quando puder, altera aí na aba lateral por favor, por favor, senão ele não vai mais atualizar……
ResponderExcluirhttp://www.cinepipocacult.com.br/
feed: http://feeds.feedburner.com/cinepipocacult
Valeu!
Já eu, estou esperando gostar bastante! Aguardo a estreia em Portugal, a 21 de Janeiro.
ResponderExcluirCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
É um filme que estou esperando muito pra ver!
ResponderExcluirIndico um outro para colocar aqui na sua sessão de Soco no estômago: Elefante do Gus Van Sant.
Abraços
Eu ainda não consegui assistir Anticristo ! Mas to doido pra ver logo , porque o Lars é muito talentoso e a história do filme é foda ! Só descordo de ti quanto a Dogville , achei muito interessante ! hehe .
ResponderExcluirAbraços .
Daniel , me impresiionei com o filme apesar de não ter gostado tanto assim ... como aliás acontece comigo quando avalio os filmes do Von Trier. Aproveito esse comentário, pra falar do filme abaixo (Sozinho Contra Todos) que me deixou extremamente interessado em ver. No aguardo do terceiro filme rsrsr, depois disso , indico os meus rsrs
ResponderExcluirTenho muitissima curiosidade para ver esta fita.
ResponderExcluirAbraço
Ciro, não conhecia a má fama da obra.
ResponderExcluirAmanda, arrumarei agora mesmo.
Roberto, vá correndo assistir quando estreiar aí!
Marcos, adoro Elephant! Tenho o dvd aqui em casa, mas não tinha me passado pela cabeça colocá-lo na série "soco no estômago". Valeu pela dica! Logo escreverei sobre essa película.
Gabriel, já esperava que alguém discordasse sobre Dogville. O que eu acho interessante nesse filme é a inovação estética. Mesmo assim, isso não foi o suficiente para me seduzir.
Alexandre (Fotograma Digital), que bom que te instiguei a assistir o "Seul contre tous"! Aguardo teu comentário para o terceiro soco no estômago.
Rui (Jackie Brown),assista a Anticristo, pois vale a pena!
Obrigado a todos pelos comentários! Abraço!
Cara, antes de mais nada, valeu pelo comentário lá no "Diz"! Vindo de um cara que saca tudo de cinema, é super legal receber esse tipo de comentário...
ResponderExcluirVon Trier também está entre os meus favoritos, mas, como você, não acho Dogville tudo isso não. Já Anticristo, foi um filme que me deixou mal. Mas, sinceramente? São esses os filmes que gosto, que me fazem pensar e me perturbam durante dias, às vezes, até semanas...
Te espero mais vezes lá no "Diz", falou?
Abração e sucesso!
Ótima resenha amigo.
ResponderExcluirLars Von Trier é tenso!
Seu blog é cultura, abs!
O filme agradou-me em vários aspectos pois eu não visionei grandes obras deste realizador embora muitos considerem esta fita como a melhor do realizador...
ResponderExcluirPartilho a mesma opinião acerca do realizador pois a sua personalidade é muito caricata e um pouco pessimista menos em relação a si...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Marcelo, muito obrigado pelos elogios! Aparecerei por lá!
ResponderExcluirRodrigo, a tensão é uma sensação presente nas obras do cineasta. Agradeço pelo elogio!
Nekas, primeiramente, obrigado pelo comentário! Considero "Anticristo" o melhor trabalho de Trier.
Abraço a todos!
Podes contar com uma visita mais regular...
ResponderExcluirEm relação ao filme parece que partilhas a mesma opinião que muito cinéfilos mas ainda ficam as dúvidas em questão ao dogville...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Primeira vez que venho aqui! o/
ResponderExcluirMuito bom o seu blog, parabéns.
Já eu, acho Dogville um filme realmente bom. Simples, porém muito eficaz. A respeito de Anticristo, acho que não entrei no clima como você fez. Eu achei que é um filme sem grandes horizontes, voltado estrategicamente para incomodar o espectador - e nesse quesito, me frustou, porque não me senti incomodado. Acho que Lars Von Trier já fez filmes bem melhores - vide o próprio Dogville - e não sei exatamente qual tenha sido a intenção dele ao nos mostrar essa obra.
Vale ressaltar, no entanto, que a fotografia do filme é uma das mais bonitas e o prólogo certamente é uma das cenas que ficarão marcadas nos cinéfilos, pois, como você mesmo disse, a crueldade da cena é paradoxal à sua beleza.
;D