8 it was RED: Quase famosos - Em busca do cool

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quase famosos - Em busca do cool

Quase Famosos (Almost Famous, 2000)
Direção: Cameron Crowe
Roteiro: Cameron Crowe
1973. Elaine Miller (Frances McDormand) é uma professora universitária que impõem aos seus filhos suas inflexíveis regras, como celebrar o Natal em setembro e proibir o Rock dentro de sua residência. Diante desse quadro, sua filha Anita Miller (Zooey Deschanel) foge de casa para ser aeromoça e deixa para seu irmão William (Patrick Fugit) sua bela coleção de discos de rock.

Aos 15 anos, William escreve críticas amadoras sobre o estilo. Lester Bangs (Philip Seymour Hoffman) – crítico que existiu na vida real -, após ver os textos do garoto, o ajuda dando conselhos. Ele diz para o jovem aspirante ser “honesto e impiedoso” ao escrever sobre uma banda e não criar um laço de amizade com essa. Durante um encontro entre William e Lester Bangs, esse faz uma afirmação que muita gente faz atualmente: “o rock está morto”. Não se esqueça que a história se passa em 1973! Se nessa época o consagrado estilo estava morto, imagine hoje! A lição que se tira disso é que, em qualquer época, sempre haverá alguém dizendo: “Rock is dead”.

William é convidado pela revista Rolling Stone para cobrir a turnê do Stillwater, banda fictícia que o diretor Cameron Crowe criou baseado em três grupos dos quais ele gostava: Led Zeppelin, Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd. Com isso, o garoto conhece os Stillwater – ignorando o aviso de Lester, ele se aproxima dos integrantes - e a garota Penny Lane (Kate Hudson) – que existiu na vida real -, pela qual se apaixona. Aí começa o envolvimento do protagonista com a tríade sexo, drogas e Rock’n Roll.

Quase famosos mostra superficialmente as relações familiares (durante o longa vemos a preocupação da mãe Elaine Miller com o filho William, além da relação dessa com sua filha Anita), mas seu maior enfoque é no Rock. O longa exibe a relação do estilo tão consagrado com as drogas - uma ligação que se revela de extrema importância-, o valor da imagem no mundo da música e a distância entre ídolo e fan.

Rock + drogas: A relação é ilustrada durante todo o longa, mas destaca-se na cena na qual o guitarrista do Stillwater, Russell Hammond (Billy Crudup), toma ácido durante uma festa e sobe no telhado. Lá, após gritar “I am a golden god!” (eu sou um deus dourado) – episódio inpirado em uma história com Robert Plant, vocalista do Led Zeppelin – ele diz que vai se jogar em uma piscina que se encontra logo abaixo. Antes de pular Russel diz suas “últimas palavras”, declarando que está totalmente chapado. As pessoas da festa respondem calorosamente a sua manifestação. Gritam, aplaudem, assobiam. O guitarrista decide repensar suas “últimas palavras” e as substitui, dizendo apenas que gosta de música. O resultado da nova despedida foi apenas alguns sussurros e aplausos desanimados. Vendo a decepção do “público”, Russel re-substitui sua “despedida”, falando novamente que está chapado. A recepção das pessoas é tão calorosa quanto a primeira. Nessa cena fica nítida a fundamental importância das drogas no Rock. Importância que, segundo o filme, chega a sobrepor-se à própria música.


A distância entre o fan e o ídolo e a busca por uma imagem: A seqüência na qual Lester conversa ao telefone com William retrata a relação entre fans e os ídolos. Eles discutem sobre o papel do fan, que sempre acaba querendo ser como seus ídolos, ter a mesma imagem cool que eles têm. No entanto, Lester afirma que, mesmo achando que se é um deles, você não é. Se por um lado temos os fans em busca de uma imagem cool, pelo outro temos a banda com o mesmo objetivo. Há uma cena na qual o Stillwater pede para William, ao retratar a banda, o garoto a faça parecer cool, apenas isso. Quase famosos ilustra a obsessão por uma imagem que deixa novamente a música em segundo plano.

Durante o filme, notei que Patrick Fugit aparentava interpretar mal a personagem William, principalmente em uma cena na qual esse discute com Penny Lane. Nessa parte ele deveria demonstrar fúria, mas o fez muito mal. No entanto, minha segunda impressão foi diferente. Percebi que a “má atuação” demonstrava a impotência de William diante de situações novas, a falta de experiência de um garoto de 15 anos que se depara com problemas reais. Essa “má atuação” pode ter sido intencional da parte de Patrick Fugit, ou, ao selecionar os atores, essa característica foi notada e ele foi selecionado.

É impossível comentar Quase famosos sem dizer que a película é baseada na história do próprio diretor Cameron Crowe. O roteiro conta com situções reais vividas por alguns nomes do Rock. Além da já citada cena que se baseou em uma história vivida por Plant, a cena do avião é baseada em uma viagem com o The Who. Também não posso deixar de falar sobre a parte na qual as personagens cantam Tinny Dancer, de Elton John. A música é linda e a cena foi muito bem realizada. Diria que é o melhor momento do filme.

Cameron Crowe mostra através dessa obra um Rock’n Roll que é deixado de lado pelo glamour das drogas e a busca por uma imagem. É um filme interessante, mas não explorou ao máximo os assuntos abordados.

13 comentários:

  1. É um filme delicioso de se acompanhar e para quem gosta ou conhece um pouco do mundo do rock, vai curtir ainda mais.
    Philip Seymour Hoffmann está bem como sempre, assim como o garoto Patrick Fugit, hoje sumido do cinema.

    Abraço

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  2. Daniel (Red),
    quero parabenizá-lo pleo blog e texto.
    Agradeço aos comentários, tbm vou seguí-lo!

    Adoro este filme. Uma aventura do próprio umbigo do Cameron Crowe. Só achei que ele deveria ser mais criativo como o Charlie kaufman em "Adaptação."

    Abraço.

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  3. Hugo, gosto muito do trabalho do Philip Seymor Hoffmann. Ele é um dos meus atores preferidos.

    Rodrigo Mendes, obrigado pelos elogios! Sou fã do Kaufman, é dificil um roteirista ser tão criativo quanto ele.

    Agradeço aos dois pelos comentários! Abraço!

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  4. É uma boa incursão pelos mundos do rock. É uma história bem construída e atractiva.

    Abraço.

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  5. é o rafa!

    Cara, discordo um pouco do teu texto quando tu fala que ele não soube explorar as possibilidades, porque acho que tu interpretou o filme pelo ângulo errado!

    O filme na verdade é uma história de amor ( entre o jovem e penny lane ) cujo pano de fundo são os anos 70. A enfase, na verdade, está no relacionamento e não no rock, por isso a impressão de uma obra mal explorada :)

    A segunda melhor cena do filme ( dps de tiny dancer ) é quando penny lane descobre que foi trocada por uma caixa de cerveja e simplesmente pergunta "de que marca?". Absolutamente espetacular.

    Alias, essa penny existiu de verdade para o diretor, só que na realidade ela morre de overdose no hotel, mas no filme cameron crowe decide salvar ela...

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  6. E ae rafa!

    "Quase famosos mostra superficialmente as relações familiares (durante o longa vemos a preocupação da mãe Elaine Miller com o filho William, além da relação dessa com sua filha Anita), mas seu maior enfoque é no Rock.". Quis me referir também a relações entre pessoas; sendo assim, o relacionamento entre Penny e William também foi mal explorado.

    A relação dos dois ocorria prioritariamente de forma indireta, subjetiva. A maior parte do contato entre os William e Penny se dava através de olhares e expressões dos atores. Há filmes que exploram o campo do não-explícito e o fazem com maestria (vide Babel), mas infelizmente esse não foi o caso de "Almost Famous". Acredito que essa subjetividade foi mal explorada.

    Quando observo essa obra, tenho a impressão de que as críticas ao Rock'n Roll realizadas de maneira sútil foram muito mais exploradas do que o relacionamento Penny-William.

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  7. Tem algum tempo que eu assisti esse filme e não lembro muito bem. Apesar de não ter me marcado muito, eu gostei de assisti-lo.

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  8. Este filme sempre que me lembro dele penso na cena em que eles estão viajando e cantando juntos no ônibus da banda!!!

    E o filme é demais mesmo!!!
    Ainda mais com o premiadissimo Philip S. e a Kate Hudson.

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  9. Eu vi esse filme faz tempo e na época me lembro que aluguei só por causa da Kate Hudson. E eu não gostei do filme, mas já estou pra rever faz um tempo - seu texto deu mais vontade. Aliás, eu tenho um certo problema com o Cameron Crowe, não gosto de nada que ele faz.
    O melhor do filme pra mim é a trilha.

    Obrigado pela visita lá no blog e bom saber que gosta de Noé.

    []s!

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  10. Ricardo, com certeza é um ótimo filme para se assistir.

    Receio de remorso, Noé é um excelente cineasta. Pretendo comentar um de seus longas aqui no blog. Tentei colocar teu blog na lista de "Blogs de cinema", mas não consegui =/. Abraço!

    Obrigado a todos pelos comentários!

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  11. Deve ser um ótimo filme para se assistir. Me interessei pelo estilo roading do filme. Eu curto filmes assim, como aqueles do passado, que nao me recordo agora ;P

    voce ganhou um selo no meu blog, certo?

    Abraços!

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  12. Sem dúvida: um de meus filmes de cabeceira!
    "One day, you'll be cool!"

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